quarta-feira, 23 de junho de 2010

GERTRUDE STEIN E ALICE B. TOKLAS

No olhar de Gertrude a bahia refletida e o movimento dos barcos. Preso ao espelho, o rosto de Alice acena para as gaivotas com peles, lágrimas e olhos de saudade. A bahia e o espelho são silenciados. Os barcos balançam e atiçam as velas tatuadas pelas mãos dos senhores que abraçam o mar. Poemas são atirados na água. Sentimentos são afogados nas agonias intermináveis que brotam da cara da morte. Gertrude e Alice já não se encontram mais. Cartas são aprisionadas para sempre nas malas de couro que dormem nos porões. A cidade é mergulhada num sono que inquieta e perturba os moradores e os seus altares de madeira e papel. O rosto de Alice escorre pelo espelho e tenta alcançar os objetos que estão na penteadeira. O quarto passeia pelo tempo e seduz o vento. Portas e janelas relembram conversas e reuniões de amigos. As bebedeiras de domingo se desprendem das paredes e correm pelas camas e fronhas forradas com arminho.O rio que corta a cidade amanhece e desmascara o dia. Gertrude e Alice passeiam pelo album de fotos e saúdam os amigos mortos. Crianças francesas adormecem Paris e acordam homenagens em Pittsburgh. Vale tudo quando se ama os sonhos.
Gurgel de Oliveira