terça-feira, 19 de outubro de 2010

INANNA, O ORÁCULO DO CRESCENTE FÉRTIL



Entre os rios Tigre e Eufrates,  área integrante do Crescente Fértil,  os sumérios construíram barragens, canais de irrigação e diques que concentravam uma grande quantidade de argila, matéria-prima usada na fabricação de utilitários, artesanato e placas onde estão impressas ideias e significados do pensamento daquele povo, através da escrita cuneiforme. Politeísta, a sociedade suméria acreditava em várias divindades ligadas aos fenômenos da natureza e aos sentimentos humanos como o amor, o ódio e a vaidade. Inanna, a deusa mais popular da época, luz da Mesopotâmia, era sinônimo de austeridade, sensualidade e magnetismo que evocava e seduzia o mais descrente dos mortais. Construtores e arquitetos de muito talento, os sumérios projetaram e edificaram Cidades-Estado como Eridu, Uruk, Kisch Nipur e Ur, templos artísticos e funcionais que impressionaram a antiguidade entre os anos quatro mil e mil novecentos e cinquenta,  antes de Cristo. Os Zigurates, enormes construções de formatos piramidais, serviam para guardar grãos e, hoje, o que sobrou impressiona turistas curiosos e estudiosos de civilizações que não desvendaram os seus segredos ao mundo contemporâneo.Os sumérios e o seu território foram surpreendidos pelos Amoritas e Elamitas, invasores de orígem persa. Nem a deusa Inanna, com toda a sua força e fúria de mulher e oráculo conseguiu impedir o massacre. Está tudo registrado nas placas de argila espalhadas pelos museus do mundo. O barro é como o olhar de Inana...Simples e revelador.
Gurgel de Oliveira

Foto: pormenor de painel em argila que retrata o cotidiano dos sumérios. Museu do Iraque.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sobre o Mito de Sísifo e Amendoeiras...


Um homem busca unidade e sentido no amanhã que nos empurra para a morte. A pedra é carregada nos ombros e acomodada no topo da montanha para depois ser arremessada e transportada novamente. Sísifo não cansa e os seus braços e pernas movem máquinas e rostos desprovidos de pele, dentes e lábios. Realizar o absurdo é espantar o desejo suicida do estudante ausente que deixa a sala de aula para viver o vazio ao pé da amendoeira. Dias cheios, tardes com neblina e noites insones. É assim o universo desinteressante que brota das páginas de jornais e capas de revistas. O mundo em desequilíbrio que estimula o nascimento das árvores e seduz jovens ávidos por folhas e coisa nenhuma. Retrato de um sentimento que faz doer na alma a canção primaveril que não foi cantada. Sísifo carrega a pedra e maltrata o corpo e os músculos com movimentos repetidos e golpes. O aluno adormece nos lençóis de amêndoas e sua mochila é azul e presente na aula sobre homem e comunicação. A noite se cansa e chora pedindo aos deuses que amanheça novamente. Sísifo carrega pedras e pensa em construir futuros. O estudante suspira e escreve frases suspeitas no chão de folhas secas. É assim a vida... absolutamente sem sentido e morna.
Gurgel de Oliveira

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

YUKIO MISHIMA

A ideia abstrata da beleza perfeita incomoda o escritor. O barulho dos aviões de guerra deslizam pela caneta e mancha o texto tantas vezes escrito. A ausência perturba e resgata momentos absolutos de tristeza e solidão. E o brilho do Pavilhão Dourado reflete a infância de perversidade e tirania, numa aldeia de casinhas brancas e simplicidade perto de Tokio. A espada do Samurai mira o aparelho digestivo e retalha a carne com músculos e sangue. E o ideal de beleza inunda tapetes e travesseiros que exalam sakê e sushi. Para sempre seremos animais com fome e dores vertebrais; observadores do lixo que brota dos seres humanos e dos contos de Mishima. Para sempre tentaremos matar a fome do outro que está preso ao espelho. Até que o tempo nos traga a areia do deserto que esconde as almas das crianças que morreram abraçadas ao silêncio.
Gurgel de Oliveira