quinta-feira, 27 de março de 2014

O CONFLITO DA PELE

Os vícios ainda dormem. Cidades e rios afundam na ilusão do medo. Ossos e carnes não habitam mais os frigoríficos. Crianças são recortes colados nas paredes e os relógios pararam no tempo. Ser feliz é uma penumbra. Unhas rasgam cortinas e levantam as saias do amanhecer. Abram os olhos com muito cuidado. Ameaças estão sobre a mesa e a nata do leite sumiu na madrugada. Correr em busca do nada é um esforço que causa tremores nos nervos. Que se calem as bocas das avenidas. Respirar é o essencial.

Gurgel de Oliveira

Foto do Site de Nizo Gomide. O nome do fotógrafo não foi encontrado.

domingo, 9 de março de 2014

CORRER RISCOS

É necessário que corramos riscos.  Escadas de madeira são frágeis e não suportam sofrimentos. As farmácias ficam próximas, mas as pomadas estão em falta. Pedaços de retalhos amarram ferimentos. O sangue se acomoda e o descanso é inevitável.  Frutas geladas no palito enganam  crianças e bichos. Nunca é tarde para recomeçar.  A noite desperta   o medo  e os  bonecos de madeira. Lamparinas estão acesas. Já é hora de ir para a cama  e se jogar nas cacimbas do sono.  A vida sem cicatrizes não tem o sabor dos jogos. A infância é perversa e os punhais estão afiados. Não cortemos os nossos corpos de uma só vez. Façamos aos poucos. Como os carrascos medievais. Já é quase manhã de domingo e teremos que ir à missa. Peles e bandagens fazem parte das  orações. Gritemos aos ventos que já é hora de parar. As feridas vão sarar agora!
Gurgel de Oliveira
 Fotos de domínio público.