segunda-feira, 29 de março de 2010

ALICE MARIA, SOMBRAS E ESQUECIMENTOS

As cavernas que cercam os olhos de Alice guardam recordações e lençóis recortados pelo vento. As lágrimas moldaram cicatrizes e aprofundaram desejos guardados, retalhos de afeto e caixinhas repletas de cartas não escritas que insistem em desbotar. Os olhos de Alice enfeitam o seu rosto e tentam enchergar o mundo por uma janela de pedra esculpida por homens quase sempre dispostos a traçar destinos, nas pálpebras que não dormem e nem os deixam descansar .O suor escorre pelas frestas de pele e escamas aquecendo o choro de todos os dias e molhando de vergonha os lábios pintados de vertigem e arrependimento que escondem dentes , linguas e restos de comida com cheiro e gosto de aves silvestres. Alice não mora mais nos seus olhos. As cavernas escurecem diariamente e as rugas permanecem alí, imóveis, vigiando as cicatrizes escritas com sangue e ódio. Seu rosto, visto de longe, parece uma foto em decomposição esperando a hora certa para engolir a terra. Alice Maria, que no século dezenove encantou homens e servos, hoje não passa de uma lembrança perdida no esquecimento.
Gurgel de Oliveira

segunda-feira, 22 de março de 2010

PONTO DE VISTA

Gurgel de oliveira em seu blog Arte, História e Cinema orquestra a Contemporaneidade à luz do milagre da criação artística mediante a apreensão de aspectos culturais vazados em meio a alquimia da nova ordem estabelecida pela dimensão da imagem, do "Virtual", na busca do sagrado, do Eterno que ronda a condição humana. Numa perspectiva ousada, este blog veleja pela polissemia da imagem vestida pelo verbal num arrastar da sua cadeia de significantes, na qual cabe a quem ler, escolher entre um ou outro significado. Neste aspecto, a imagem trabalhada pela arte, assume o papel de meio de registro e representação de diversas realidades passíveis de múltiplas leituras em variados níveis. Como diria Clifford Geerts, a cultura, enquanto sistema de significados socialmente estabelecidos, torna possível que as Artes reconstituam o contexto de vida das pessoas com suas respectivas representações sociais.
Assim, Gurgel de Oliveira movido pelo seu olhar poético, convida o leitor a navegar pelo universo das subjetividades das obras artísticas em suas diferentes esferas numa construção que transforma a realidade, a apartir da articução entre a palavra, a imagem, o som e o movimento. Configura-se assim - neste blog - a busca da linguagem artística pela captura e transformação da realidade em suas multiplicidades, através de narrativas do viver e do sonhar.

Diogo Fontenelle
Poeta e Doutorando em Sociologia U.F.C