quarta-feira, 24 de julho de 2013

BERNARDA ALBA

Espanha. Um povoado na escuridão e uma casa fechada pela tirania da matriarca que cheira a mofo e perversidade. Mulheres numa prisão de medo e ventres que clamam por liberdade e um pouco de açúcar. O frio que brota das paredes alerta para o luto de oito anos que trará mais sofrimento e penumbra. Bernarda tem a casa e as filhas no ângulo do olhar que não adormece e entorpece cérebros e umbigos escondidos por várias camadas de tecidos pretos. As portas não falam mais e os livros não contam estórias. Mesinhas de cabeceiras são marcadas pelas mãos que recusam pianos e caldas de doces não apurados. O escritor aperta o conteúdo psicológico da narrativa e perturba o espectador. Teatros e rotundas choram o sofrimento das ninfas. As cortinas se fecham e Bernarda é retalhada na ribalta. As mulheres se recolhem e cobrem a boca da mãe com rosas e folhas secas.
Gurgel de Oliveira

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O RESGATE DO SENTIMENTO

O Juizo Final - 1536
Afresco de Michelangelo para a Capela Sistina - Vaticano
O Barroco causou um rompimento entre razão,  sentimento, ciência  e   arte.  Teve a sua origem na Península Itálica, mas não demorou a se expandir pelo restante da Europa.   Aportou   no Continente Americano levado pelos portugueses e espanhóis. Oposta à produção artística do período renascentista, na arte barroca o que predomina é a emoção, e não o racionalismo. Um fator que deu força a essa nova visão foi esboçado   na Reforma Protestante, que provocou as questões de fé e mexeu, de forma muito profunda, em outras correntes da cultura europeia. Frente às obras que melhor representam a dedicação da igreja para resgatar os seus princípios doutrinários está o Juizo Final, de Michelangelo. É uma obra que evidencia esse artista como o "criador" de um estilo conhecido em todo o mundo e  que logo se tornaria história no século XVII. O Juízo Final, afresco pintado na Capela Sistina, pela sua beleza e intensidade, anuncia uma nova maneira de olhar a arte, através da emoção que nos transporta para o deleite e o sagrado.

Gurgel de Oliveira