quinta-feira, 26 de julho de 2012

AlBERT CAMUS E NOITES INSONES

As bonecas de Samira estão no sofá que fica no quarto de dormir. O lugar é escuro e as paredes são forradas com papel e desenhos que sugerem pessoas da família. Samira sonha com brinquedos de cera e olha para o lustre que tem rabo de tatu e gotas de cristal. Em Paris, Albert Camus observa da janela um grupo de crianças que vão à escola. E a Argélia sofre com a guerra, a fome e a morte que ronda as ruas manchadas de pele e sangue. Samira corre fugindo da peste e Camus rascunha figuras romanas nas cadernetas de memórias.A casa fica mais escura e as bonecas sentem medo. É o início da noite que apavora. Crianças voltam da escola na capital francesa. Um homem come pão na calçada e Samira rasga os vestidos de menina antiga. Cidades e povoados se recolhem em clima de oração. Os cinemas exibem películas espanholas e o fundo musical é flamenco. Tudo se dispersa! Sofás e santuários escuros fazem parte do mundo de Camus. A madrugada tapa a boca de Samira e o lustre se cala para sempre. Que mundo confuso! Samira corre pelos corredores e suja as paredes com vômito. O sofá está vazio. Os vestidos que foram rasgados aparecem no parque da cidade. Paris acorda ao som do silêncio que constrange. Duas bonecas são encontradas mortas ao lado do canal. Samira corta os dedos das mãos e some na penumbra do quarto.
Gurgel de Oliveira