domingo, 26 de abril de 2015

OBSERVE

O que parece estranho ao olhar do observador pode ser "normal" na hora da criação. O mundo do artista é composto de fantasia e estranhamento. O belo é o oposto dos padrões estabelecidos pela estética em voga. É simplesmente o resultado de um esforço para que as cores e as formas se manifestem. Repensar o comum é muitas vezes a tentativa de transformar o obvio em novidade.

Gurgel de Oliveira - Instalação Iris Hapfel - New York. Foto Internet.
A ELEGÂNCIA DO ESPÍRITO
 
Sinônimo de mistura. Estilos que se renovam. Moda reciclada e tecidos disformes, tomando a forma e os vários formatos que redesenham o corpo. Mente em constante processo de criação. Materiais. Savanas africanas e poeiras de desertos. palafitas espalhadas pelo colo. Olhos circulares, sempre. Atenção aos movimentos do mundo. Pessoas e peles na passarela. O olhar na medida certa e a certeza da transitoriedade. Estilos são pensamentos e ideias que revestem a história da alma.

Gurgel de Oliveira - Iris Hapfel - Foto Internet - New York.

SABORES E DRAGÃO


O meu primeiro contato com a obra do André Dragão foi durante uma visita a uma grande amiga. Isabel Castro, do Estúdio Contract, é uma caçadora de talentos que sempre acerta no tiro. A obra do Dragão, definitivamente inspirada na Pop Art, respira através do talento e da habilidade do artista em retratar pessoas. Célebres ou não, os retratados saltam do suporte da tela, como se não aceitassem as limitações que lhes são impostas pela "academia", e obrigam o observador a passear por um universo impessoal e absolutamente íntimo, levando-se em conta a sensibilidade e a capacidade sensorial de cada um. Acrílico sobre tela e pastel sobre papel, não importam aí as especificidades dos materiais, o artista consegue captar olhares, vestuário, cores e sabores que, hora se escondem, e hora se desnudam diante das várias interpretações embutidas em cada traço. Isabel Castro, Estúdio Contract, e André Dragão fazem parte de uma pequena parcela de elementos que separam o design de objetos da arte pictórica. Para se descobrir o que isso significa, é necessário que observemos o mundo por janelas intrinsecamente distintas.

Gurgel de Oliveira

MIRADAS

Sombra, luz e o olhar do mito. Traços delineiam e afirmam o desejo do observador. Palheta de cores atentas aos traços. É o pulo do dragão e o dedilhar do semblante que se recria a cada momento. Resinas e acrílico. O linho branco espera a ocupação das pinceladas. Desconforto e inquietação. Olhos perturbam o observador. Delírios inacabados. Pincéis em harmonia com o silêncio que habita as câmaras da criação. O rosto já é visível. O artista não se convence e apela ao "esfumato". Itálias e Américas se redescobrem. É o cinema na tela. Estático e absoluto na escuridão. Fantasmas do desejo. Dragão em movimento. Arte, traços e aquarelas nos confundem. O renascimento do belo é sempre uma surpresa.

Gurgel de Oliveira - Acrílico sobre tela de André Dragão.
OLHOS DO MODERNISMO

A escola Bauhaus, iniciativa do arquiteto alemão Walter Gropius - 1883-1969-, deu início a uma nova era para a arquitetura moderna. "construída" na cidade de Weimar, em 1919, a escola incrementou a produção artística industrial, os projetos urbanísticos e o design. As belas-artes e as artes decorativas, que produziam objetos usados no cotidiano, não deveriam ser díspares, segundo Gropius. A arte do século vinte sugeria ser observada como uma necessidade social. Arte e indústria. Um produto que se adequaria ao século em crescimento. Contemporânea, cultuada por grandes artistas da época, a escola não sobreviveu à ousadia do seu criador e admiradores. Berlim, 1933. A Bauhaus deixa o espaço físico e pasa a habitar mentalidades inquietas. Muitos artistas de hoje bebem das suas águas. Cristalinas e inspiradoras.

Gurgel de Oliveira

Objetos Bauhaus - Foto Internet.


SIMPLES ASSIM

Para sempre amantes do tempo. Canais e gôndolas em canções de Burano. Estatuárias vivas e peles que comovem o vento. Corpos em delírio. Leques e pérolas para espantar os olhares. Cores e lembranças. Desejos carnais impressos nas paredes e calçadas. Crateras em desalinho. Luzes e cachoeiras. Sereias que jamais perderão o brilho. Itálias e arte bordadas nas mãos. Sonhos não lembrados e lembranças esquecidas. Salas de cinema. Amores e perdição. Simplesmente Loren. Eternamente Sophia.

Gurgel de Oliveira - Foto Internet.
ASAS

Rosas ao vento. A paz pede passagem. Nuvens adormecem e braços são erguidos em sinal de alegria. Saldar o dia faz bem a noite. Andorra e esquinas. Espanhas e sevilhanas no tablado. Rosas ao tempo. Águas banhando quartos e armários navegando sem destino. Barquinhos e cores. Anéis e amores. Fotos nos varais e imagens cravadas no cimento. Calçadas, Sinos e catedrais.

Gurgel de Oliveira - Foto Fernando Naiberg.
ESFINGE

Manhãs de Sol na cidade dos sonhos. Desejos que se renovam a cada noite. Tempos que não voltam mais. Brilhos, tecidos e âmbar. Retalhos de melhores dias desfiados na memória. O sintético e a pele no diálogo do belo. Mistura de estilos. Épocas em papéis e recortes. Lembranças ao longe. Distâncias perto do olhos. Pedras e preciosidades. Passam vidas e vindas. Desfile de emoções. Sinfonias e poemas deslizando pelo corpo. Simplicidade em evidência. Pessoas e coisas não duram muito. Marcam presença e fogem em carruagens. Estórias são recontadas. Roupas são descartadas, mas o brilho permanece. Espíritos e luzes dialogam. Olhares são pássaros e a cegueira é uma opção. Observe bem longe. Estilos não somem nunca. São cicatrizes tatuadas no olhar.

Gurgel de Oliveira

Iris Apfel. Foto Internet.
É SÒ ISSO.

Jamaicas bordadas nos tecidos caribenhos. Retratos de deuses no limiar dos acordes. Américas recontadas com pigmentos e afetos. Saudades recortadas e coladas nos tapumes do tempo. Ruas sem nome a procura de casas e esquinas. A arte do Dragão sugere poesia e fragmentos de olhares. Atenção e mergulhos nas aquarelas da alma. Galerias inabitadas nos túneis em branco e preto. A revelação do artista é imediata. Ultrapassa os limites do racional e mergulha no universo desprovido de limitações e lugares comuns. Um passeio pelo inimaginável e desconhecido. Como uma ânfora de vinho, de dois mil anos, encontrada no mar de Alexandria. Feliz de quem o degustou. A arte ultrapassa sabores. Vasculha dores e sugere amores.

Gurgel de Oliveira

acrílico sobre tela ou pastel sobre papel? Não importa. O fogo do Dragão responde através da imagem.
Pintura de André Dragão.
AMÉRICAS. OS ESPÍRITOS DA TERRA.


CANÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS. MONTANHAS QUE GUARDAM O SAGRADO E PENHASCOS DOS SACRIFÍCIOS. CONTINENTE E NAÇÕES NA LINHA DO AÇOITE. RITUAIS DE FOGO EVOCANDO DEUSES E VULCÕES QUE DORMIAM PARA SEMPRE. ECOS DE CIVILIZAÇÕES TRAZIDAS AO VENTO PELAS FORMAS OLMECAS. ESCULTURAS DE PELES. PIRÂMIDES E MINARETES DE TEXTURAS ÍMPARES E SECULARES. CORPOS INDÍGENAS DOMESTICADOS. ROSTOS ASTECAS EM TERRAS MEXICANAS E FESTIVAIS DE CARNES NA NICARÁGUA. CALDEIRÃO DE CULTURAS E BANDEIRAS. CACHOEIRA DE LÁGRIMAS PELOS QUE SE FORAM ANTES DO DESPERTAR DA JUSTIÇA. AMÉRICAS QUE CHORAM NAS SEPULTURAS MAIAS. ADORNOS PARA O CORPO, OSSOS E OLHOS. FESTA DOS FINADOS NAS NICARÁGUAS AUSENTES. FLORESTAS E BOCAS SELVAGENS AMEDRONTADAS PELOS FUZIS ESTRANGEIROS. A RESISTÊNCIA É O SUMO QUE UMEDECE A DESIGUALDADE. FANTASMAS INCAS FICARÃO NA CONTAGEM DA HISTÓRIA. PARA QUE ELA NÃO SEJA ESQUECIDA. AMÉRICAS SEMPRE SERÃO MÚMIAS VIVAS. INVÓLUCROS DE CARTILAGEM NOS SARCÓFAGOS DA GUERRA.

Gurgel de Oliveira - Acrílico sobre tela de André Dragão.