O mundo de Maria Rosário é repleto de estatuetas de cera. Fotos de mãos em negativo enfeitam as paredes e portas, impedindo a passagem do Sol. Não sabemos onde fica o lugar e o caminho é escondido pela névoa e árvores com muitos galhos e frutos. Rosário não lembra quem a levou para a escuridão. O vestido é o mesmo já faz anos. Os banhos são raros como os ruidos externos que não são ouvidos. Eles tornam o espaço um refém do silêncio que apavora corpos e mentes. É proibido sonhar! Rosário não dorme! Noites de imprecisão e medo fazem parte do cotidiano. Às vezes, o desespero é o único remédio. A ameaça se veste de anjo e sobrevoa a cama, como um pássaro de inquietude constante. Rosário não come, não bebe e tem água nos olhos. Sua pele é um tecido que embala os ossos. A fragilidade é pálida e não fala. Para sempre escreveremos sobre mundos sem sangue. Lugares escondidos na imensidão do vazio que reveste as nossas almas.
Gurgel de Oliveira