As cavernas que cercam os olhos de Alice guardam recordações e lençóis recortados pelo vento. As lágrimas moldaram cicatrizes e aprofundaram desejos guardados, retalhos de afeto e caixinhas repletas de cartas não escritas que insistem em desbotar. Os olhos de Alice enfeitam o seu rosto e tentam enchergar o mundo por uma janela de pedra esculpida por homens quase sempre dispostos a traçar destinos, nas pálpebras que não dormem e nem os deixam descansar .O suor escorre pelas frestas de pele e escamas aquecendo o choro de todos os dias e molhando de vergonha os lábios pintados de vertigem e arrependimento que escondem dentes , linguas e restos de comida com cheiro e gosto de aves silvestres. Alice não mora mais nos seus olhos. As cavernas escurecem diariamente e as rugas permanecem alí, imóveis, vigiando as cicatrizes escritas com sangue e ódio. Seu rosto, visto de longe, parece uma foto em decomposição esperando a hora certa para engolir a terra. Alice Maria, que no século dezenove encantou homens e servos, hoje não passa de uma lembrança perdida no esquecimento.
Gurgel de Oliveira
Gurgel de Oliveira
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