Dona Joana das Ervas é muito conhecida no povoado como a velhinha rezadeira. Cura espinhela caída, tosse seca e outras enfermidades que atacam as crianças e também os adultos que moram próximos e nos vilarejos distantes. As estradas são de terra batida e a vegetação é rasteira, com muitos espinhos e muitas estórias contadas e cantadas nas rodas de viola organizadas pelos moradores e os repentistas do local. O olhar de dona Joana parece água do mar. Suas retinas escondem as verdades que não podem ser pronunciadas e serão guardadas para sempre como segredos dissecados e empalhados para que não percam as suas formas. As mãos de dona Joana têm rugas, manchas e o cheiro dos corpos com os quais já caminhou pelos mundos dos mistérios que só ela conhece. Na sala da casa onde ela mora tem um altar forrado com papel e docinhos de frutas que enfeitam as imagens e revestem de alegria a auréola do anjinho de gesso. Ao lado, na parede próxima do quarto, um retrato com moldura oval vigia os corredores e a porta da rua. É a foto de dona Joana rezada pelos espíritos e abençoada pelos mensageiros do sono. Parece guardar o povoado na estampa do vestido que foi comprado na feira de todos os sábados pelo filho que sumiu quando buscava ervas na mata próxima do rio. Dizem que foi levado pela Mãe d'àgua e hoje mora numa pedra junto da cachoeira.
Gurgel de Oliveira
Gurgel de Oliveira
AH!COMO É DOCE A CULTURA DOS MAIS ANTIGOS BENZEDORES E REZADEIRAS DA NOSSA TERRA! O PIOR É QUE,NÃO SEI QUE TIPO DE MÁGICA É FEITA,MAIS SEMPRE DÁ CERTO! ISSO É DOM DIVINO...
ResponderExcluirLINDO TEXTO, COMO SEMPRE! E VIVA A NOSSA FAUNA E FLORA QUE PERMITE QUE PESSOAS ASSIM CURE A TODOS NÓS.