Seu Antônio carrega o corpo da filha Helena numa mala de couro, pelas estradas que cruzam o sertão do Ceará. A poeira e o Sol ressecaram a pele do rosto, embaçaram os olhos e partiram os lábios do pai que chora todos os dias ao lado da mala onde mora a filha sem vida . Estórias da zona rural ou delírio? Nos finais de tarde, seu Antônio abre a mala e joga água do açude no corpo de Helena, na esperança de recriar movimentos, fazendo travesseiros e cobertores de folhas e galhos do Outono. As árvores não existem mais e a paisagem não encanta o velho pai que tem ferimentos nas palmas das mãos, dores no peito e cicatrizes na alma. Instantes que doem no corpo e dilaceram a dignidade. Aos que perguntam o que tem na mala, seu Antônio responde que é um tesouro preso ao silêncio que vive no quarto dos fundos de uma casa abandonada. À noite, quando as estrelas brilham no céu que parece próximo e os fantasmas dançam e cantam para Seu Antônio, Helena salta da mala e beija o pai com os lábios sujos de saudade, e grita ao redor da fogueira que esquenta as lembranças de algum lugar preso em memórias.
Gurgel de Oliveira
Gurgel de Oliveira
“...um tesouro preso ao silêncio que vive no quarto dos fundos de uma casa abandonada...”
ResponderExcluirPobre Helena que não mais vive na mala de couro.
Pobre Sr. Antônio que chora por uma vida que não mais será recriada.
Pobre dos dois que depois da vida terrena talvez jamais se encontrem novamente.
Ótimo texto Gurgel.
Adriano César Padilha Silva.
Emocionante.
ResponderExcluirEstórias ou delírio?