Quando nada mais é importante, e o amanhecer é apenas um esforço do tempo para se manter acordado, é a hora de dar adeus aos nossos corpos fatigados pela falta da chuva que umedece e refresca a alma dos nossos olhos. Quando nada mais é importante, e o sol parece nos olhar com cara de choro e rugas de ressentimento , é o momento de retirar vagarosamente a pele apodrecida que reveste os nossos desejos mais sórdidos, e remover a máscara que plantaram nas nossas faces, quando dormíamos e sonhávamos com um mundo menos fétido. As linhas que estão impressas nas nossas mãos são as marcas dos cemitérios que nos perseguiram na infância e fizeram dos nossos finais de tarde pequenas cerimônias fúnebres, impregnadas de depressões domingueiras e interioranas. Quando nada mais é importante, nem mesmo os poemas assassinados de Emily Dickinson, é hora de fechar delicadamente os nossos livros, enforcar urgentemente a elegância das nossas emoções, e contar estórias para todas as crianças mortas.
Gurgel de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário