As estranhas divindades que moram no fogo e dominam a agilidade e os segredos das salamandras são as mesmas divindades que nos acompanham quando decidimos partir para a Terra do Nunca, onde a pele e a carne se livram das dores mundanas e a nossa alma descansa. A senhora de rosto amargurado escreveu poemas tristes como as nuvens que fizeram de tudo para enfeitar o céu. Deixou para trás as doçuras da vida e caminhou, vestida de sombras, rumo ao lago de águas turvas e definitivas. Aos poucos, sem nenhuma pressa e engasgada pelas incertezas e saudades, retirou as pérolas do pescoço, cobriu os olhos com pequenas pedras frias e afogou a vida com paciência, coragem e precisão britânica. No fundo do lago, sem lápide, sem olhos e sem nome, o corpo franzino da poeta aquece e abraça algas e musgos, é amigo e parceiro inseparável do segredo das salamandras.
Gurgel de Oliveira
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