quarta-feira, 28 de abril de 2010

THE LOVELY BONES - UM OLHAR DO PARAÍSO

O corpo esquartejado de Susie Salmon está preso num cofre em algum lugar da Pensilvânia. Os olhos azuis do assasino passeiam pelo bairro em busca da próxima vítima. A realidade é laranja e o forro das paredes também. Suzie redescobre o paraíso. O azul e amarelo contrastam com as cores dos campos, do mar, da areia e do céu. O assassino observa a casa de brinquedo e o cofre. A sensação é de desconforto e ansiedade. O pai de Susie quebra as miniaturas de navios que estavam presas em garrafas. A mãe se desespera e parte para a linha do esquecimento. Susie acompanha o desenrolar de acontecimentos ao lado da amiga nipônica, vítima do mesmo assassino. A fotografia me causa estranhamento e uma sensação de loucura setentista. O paraíso se descortina. A copa da árvore é feita de pássaros. A realidade pós-morte é de uma beleza assustadora. As cenas retrô nos remetem ao tricô e calças bordadas com pedaços de espelho. O assassino deseja a irmã de Susie. O corpo apodrece no cofre e exala perfume nas fronteiras do além. A dualidade do roteiro se perde nas paisagens bucólicas que navegam entre realidade ficcional e visão distorcida do real. O tempo do filme é de beleza, lágrimas e espera. O cofre é a chave de tudo. Cenas submersas desvendam o passado de olhos azuis e mais meninas mortas. O pai observa fotos. A Direção de arte é cardecista e competente. O final se aproxima. A avó de Susie é o espelho do patético e convence. O cofre vai para o fundo da terra. Susie é libertada do próprio corpo para viver uma nova vida ao lado das meninas mortas. O assassino é assassinado como um castigo do divino. A vingança do sagrado bordada em clichês e lascas de gelo. A vida vai seguindo o seu destino. O paraíso existe e o gazebo é kitsch. Peter Jackson ajustou a narrativa ao exagero estético do que pode ser a vida após a vida. O resultado é belo como um cofre aprisionado na mente de um psicopata.
GURGEL DE OLIVEIRA

2 comentários:

  1. É isso aí, Gurgelino. Essa é a energia.

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  2. Pois é, não vi o filme, mas gosto do exercício da escrita. O texto é fragmentado, frenético. Fiquei com vontade de ver o filme, mesmo assim, acho que poderia reduzir, um pouco a pontuação, embore eu adore texto com frases curtas.

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