terça-feira, 25 de janeiro de 2011

KATHERINE MANSFIELD


A menina irlandesa não identificada tem cemitérios ao redor dos olhos e contos escritos por Katherine Mansfield presos ao vestido de renda inglesa, presente do primo londrino na primavera do começo do século. A chuva cai e molha o rosto e a pele que reveste o corpo com cicatrizes e feridas de guerra que marcam as pernas e sujam as meias de lama e fragmentos de bombas. As folhas de papel se desprendem do vestido e mancham de tinta a cama adornada pelos odores de morte que vão sufocar a Europa nas próximas décadas. A menina decifra o futuro nas mãos da amiga que prepara sopa e creme de legumes. E o tempo grita aos ventos que é hora de acordar e preparar o sol para momentos felizes. Katherine escreve sobre pães e pessoas que não comem. Na Irlanda, meninas sem nomes procuram caminhos numa lista afixada no muro da escola e aguardam notícias das mães que morreram surdas, sufocadas pelas ondas do rio que corta a cidade e congela a sensação de dor que acompanha o verão.
Gurgel de Oliveira

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