quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

BUSCANDO OS SENTIDOS - PARA O ARTISTA PERFORMÁTICO ZMÁRIO

Corpos sem órgãos correm por entre muros e buscam o azul. O quarto do hospital abriga moluscos, frascos sem água, travesseiros e sonolência. O artista briga com a própria imagem e raspa os pelos próximos ao peito e distantes do umbigo. Repensar a imagem diante dos espelhos resgata dores e tosses passadas. Gripes não foram curadas e os olhos doem diante das deusas e outras entidades engessadas pelo cansaço do tempo. Escadas são dispostas no altar de talha barroca e objetos de prata que não encantam e perderam o brilho. Igrejas se desprendem dos fios que delineiam a memória e as propostas do artista. É o fim da jornada. Bonecos de plástico são mutilados e mergulhados em sangue. Cartolas e perucas enfeitam o necrotério e cobrem a tarde com as cores da morte. Em Paris, próximo da torre de ferro, um filme de Michael Derek Jarman é enterrado e padres franceses se rendem ao silêncio. Para sempre beberemos ilhas e mares. Para sempre buscaremos o sentido do azul.
Gurgel de Oliveira

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

JOHN CHEEVER


Casas de subúrbio abrigam casais que não se encontram. Acidentes em estradas americanas separam irmãos para sempre e causam sofrimento aos segredos alheios. O mundo do escritor John Cheever é permeado de realidades que não são palpáveis e nos causam estranhamento. O rádio da sala transmite ruídos dos vizinhos. Hóspedes indesejáveis aportam com malas repletas de vidas sem eixo e mapas de felicidade. Luzes apagam e acendem noites flambadas com álcool e sangue de pássaros em extinção. E os becos de Nova York amanhecem molhados com portões de ferro jogados no chão e escorados nos muros idealizados pelos grafiteiros que não dormem. Universos estranhos são comuns nas páginas manuscritas de letras recicladas e despedidas. Casacos de peles causam sensações de repulsa e virilidade, enquanto as velas se apagam e deixam as ruas da cidade idealizada pela tinta sem rosto e pálpebras. O medo se espalha no elevador e o mundo redescobre pistas de crimes e vísceras. É o amanhecer que brota da caneta quase em silêncio e reverencia a força do sol.
Gurgel de Oliveira

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ANSELM KIEFER






Câmaras frigoríficas preservam os corpos idealizados e congelados por Anselm Kiefer , numa instalação que relembra perversão e crueldade nos campos alemães. Vagões de carga são esvaziados pelas mãos do tempo como casas judias saqueadas pela descrença e pichadas com as pinceladas da ignorância que devastou parques e condenou árvores que serviram de abrigo para vivos e mortos. A performance fotográfica impressiona pela dimensão e o conteúdo que denuncia e resgata a força das mães que perderam filhos e ganharam traumas e caixinhas de saudade. E a galeria brilha na rua que clama pelo prazer diluído na urina, fezes e esperma que brotam dos canos quebrados espalhados pelo quarteirão. É assim a arte e seus apelos estéticos intensificados pelo nosso olhar: bela e fétida!

Gurgel de Oliveira