Corpos sem órgãos correm por entre muros e buscam o azul. O quarto do hospital abriga moluscos, frascos sem água, travesseiros e sonolência. O artista briga com a própria imagem e raspa os pelos próximos ao peito e distantes do umbigo. Repensar a imagem diante dos espelhos resgata dores e tosses passadas. Gripes não foram curadas e os olhos doem diante das deusas e outras entidades engessadas pelo cansaço do tempo. Escadas são dispostas no altar de talha barroca e objetos de prata que não encantam e perderam o brilho. Igrejas se desprendem dos fios que delineiam a memória e as propostas do artista. É o fim da jornada. Bonecos de plástico são mutilados e mergulhados em sangue. Cartolas e perucas enfeitam o necrotério e cobrem a tarde com as cores da morte. Em Paris, próximo da torre de ferro, um filme de Michael Derek Jarman é enterrado e padres franceses se rendem ao silêncio. Para sempre beberemos ilhas e mares. Para sempre buscaremos o sentido do azul.
Gurgel de Oliveira
Gurgel de Oliveira