sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

JOHN CHEEVER


Casas de subúrbio abrigam casais que não se encontram. Acidentes em estradas americanas separam irmãos para sempre e causam sofrimento aos segredos alheios. O mundo do escritor John Cheever é permeado de realidades que não são palpáveis e nos causam estranhamento. O rádio da sala transmite ruídos dos vizinhos. Hóspedes indesejáveis aportam com malas repletas de vidas sem eixo e mapas de felicidade. Luzes apagam e acendem noites flambadas com álcool e sangue de pássaros em extinção. E os becos de Nova York amanhecem molhados com portões de ferro jogados no chão e escorados nos muros idealizados pelos grafiteiros que não dormem. Universos estranhos são comuns nas páginas manuscritas de letras recicladas e despedidas. Casacos de peles causam sensações de repulsa e virilidade, enquanto as velas se apagam e deixam as ruas da cidade idealizada pela tinta sem rosto e pálpebras. O medo se espalha no elevador e o mundo redescobre pistas de crimes e vísceras. É o amanhecer que brota da caneta quase em silêncio e reverencia a força do sol.
Gurgel de Oliveira

2 comentários:

  1. Gurja, gosto muito dos seus textos. Eles são poéticos e ao mesmo tempo guardam uma crueza, própria da vida. O que há de Gurgel nestas palavra? As lacunas deixadas pela fragmentação nos impele enquanto espectadores, nos coloca em sobresalto, à deriva. E perplexos continuamos a voltar a estas palavras, na memória, em busca dos nossos e novos significados.
    Carol

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