sexta-feira, 25 de março de 2011

LEMBRANÇAS PARA SIMONE WEIL



O ano é mil novecentos e trinta. A China tem fome e os mandarins clamam por justiça em praças e templos tocados pelos deuses. Simone Weil corre e atormenta os corredores da Sorbone a procura da amiga, a outra Simone que, dia após dia, luta para descobrir um sentido para a vida dos homens. As noites são de chuva e as ruas são enfeitadas por pessoas com roupas sem cores, dor e ressentimentos. As causas humanitárias estampam jornais e as paredes das esquinas acolhem os protestos e o inconformismo dos estômagos quase sempre vazios. Simone Weil submete o corpo à extremas privações. A outra Simone escreve sem parar e mata a fome com brioches e poemas importados de Dublin. Artistas e prostitutas trocam afagos e marroquinos servem de molde para as intenções nem sempre reveladas dos artistas que buscam brilho e notoriedade. O tempo passa e chegam as noites de calor e bebidas de origens não conhecidas. É verão no Velho Mundo e os líderes não se entendem. As farras nos cabarés se intensificam e a arte toma rumos nunca vistos. Simone Weil grita pelas ruas inglesas e marca o corpo com sangue e trapos retirados da pele dos anjos. A outra Simone escreve sem parar e entorpece a alma, para que os sentidos do olhar não adormeçam diante do caos.
Gurgel de Oliveira

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