sexta-feira, 26 de abril de 2013

TEM UMA SENHORA NA JANELA

As pedras do chão  estão molhadas e sapatos são atirados no coreto. Crianças passam correndo e carregam gritos nas lancheiras de muitas cores. Na Rua das Flores é sempre assim. De repente o entardecer invade as casas, igrejas e  corações menos preparados. Os cabides adormecem nos quintais e os gatos viram pássaros e adornos de fachadas. Tem um vulto na janela do sobrado. Crianças e lancheiras param na Esquina do Medo e comem biscoitos olhando para cima. O sobrado não é pintado e tem fachada neoclássica. Mulheres vestidas de preto acompanham um cortejo fúnebre. A pessoa que está no caixão não tem nome nem marcas no rosto. É apenas o registro de uma breve  passagem pelo tempo. É hora de ir para a cama, grita uma professora  bordada nos cobertores que cobrem os móveis das saletas e quartos. Os becos estão sem luz e o Sol já tomou outros rumos. É necessário que sonhemos para que a vida tenha sentido. É preciso que o sono apareça para que os sonhos despertem e  tomem forma. O poste de iluminação desenha sombras e sorrisos nas paredes da escola. Tem uma senhora na janela.
Gurgel de Oliveira

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