Desprovida de qualquer sentimento de afeto e sempre atenta aos sinais, Brigitte observa os companheiros da loja onde vive e se encanta com a luz que entra pelos vidros, com a elegância de quem quer ser comprada e vestida com roupas de marca e adornada com adereços assinados por estilistas que cultuam moda e aparência. Os carros fazem barulho e os ambulantes gritam nas calçadas. É começo de tarde e respira-se com muito esforço. Os parques estão cheios e os grandes magazines exibem nas vitrines mulheres e homens de fibra. Olhos de vidro que refletem o olhar do outro, ávido pela composição estética do aquário de sonhos. Crianças correm com balões e doces. Cavalos alados ensaiam voos nunca antes pensados, pelas nuvens que encobrem circos e picadeiros. Brigitte planeja mais uma ação para mexer com o cotidiano que não se renova e aborrece os humanos. A lua acena de longe, gorda e cheia de luz. A escuridão invade prateleiras e depósitos. Quatro mulheres são encontradas mortas e dão sentido à madrugada. O começo da manhã constrange. Tem fios de sangue nas mãos de Brigitte. A caixa registradora computa mais uma venda. Brigitte troca de endereço e agora é atração na Avenida Quinze.
Gurgel de Oliveira
Gurgel de Oliveira