sexta-feira, 31 de maio de 2013

NAVALHA

Desprovida de qualquer sentimento de afeto  e sempre atenta aos sinais, Brigitte observa os companheiros da loja onde vive e  se encanta com  a luz que entra pelos vidros,   com  a elegância de quem quer ser comprada e vestida com roupas de marca e adornada com  adereços assinados por estilistas que cultuam  moda e aparência. Os carros fazem barulho e os ambulantes gritam nas calçadas. É começo de tarde e respira-se com muito esforço. Os parques estão cheios e os grandes magazines  exibem  nas vitrines mulheres e homens de fibra. Olhos de vidro que refletem o olhar do outro, ávido pela composição estética do aquário de sonhos. Crianças correm com balões e doces.  Cavalos alados ensaiam voos nunca antes pensados,  pelas nuvens que encobrem  circos e  picadeiros. Brigitte planeja mais uma ação para mexer com o cotidiano que não se renova e aborrece os humanos. A lua acena de longe, gorda e cheia de luz. A escuridão invade prateleiras   e depósitos. Quatro mulheres são encontradas mortas e dão sentido  à  madrugada. O começo da manhã constrange. Tem fios de sangue nas mãos de Brigitte. A caixa registradora computa mais uma venda. Brigitte troca de endereço e agora é atração na Avenida Quinze.

Gurgel de Oliveira


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