Um cheiro adocicado de ervas desliza pelas cortinas da noite e embala, com uma suave alegria, as paredes brancas do velho quarto de dormir...
Imagens de anjos saltam dos olhos da mulher antiga e bailam no assoalho dos corredores frios e urgentes...
O relógio de madeira estrangeira, anfitrião da sesta, anuncia com elegância européia um longo período de horas intranquilas...
E o menino azul, de passado turquesa e olhos da cor dos mares, borda cavalos negros no tapete que descansa num canto significativo da sala de jantar...
Gurgel de Oliveira
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
ENTERRO DE REDE
A frágil luminosidade que banha o cair da tarde abraça as ruelas do pequeno vilarejo.
A rede manchada pelo tempo carrega o corpo do senhor morto, pelos caminhos de terra seca da caatinga.
Lágrimas de saudade ajudam a compor os rostos dos familiares que mais parecem réplicas de ex-votos.
E um sentimento de perda ecoa pelas portas da estreita capela durante o ritual de corpo presente.
Enquanto o tempo vai passando construindo os sonhos dos mortos e matando a fome da boca da noite...
Gurgel de Oliveira
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
HALLOWEEN
A cidade, sonolenta, foi tragada pelas feiticeiras.
Os prédios foram vestidos com roupas pretas e silêncio.
E as praças, esvaziadas e escuras, esconderam suas estátuas em caixas repletas de dúvidas.
Nada mais se ouviu. Os cinemas fecharam em clima de oração.
Os mendigos, de rostos podres e linguas embriagadas, fizeram dos muros grafitados esconderijos de medo.
Tudo virou feitiço na cidade fantasma.
O teatro, de fachada imponente e desenhos seculares, mastigou os seus atores e cuspiu sementes na platéia...
Gurgel de oliveira
Os prédios foram vestidos com roupas pretas e silêncio.
E as praças, esvaziadas e escuras, esconderam suas estátuas em caixas repletas de dúvidas.
Nada mais se ouviu. Os cinemas fecharam em clima de oração.
Os mendigos, de rostos podres e linguas embriagadas, fizeram dos muros grafitados esconderijos de medo.
Tudo virou feitiço na cidade fantasma.
O teatro, de fachada imponente e desenhos seculares, mastigou os seus atores e cuspiu sementes na platéia...
Gurgel de oliveira
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Dona Maria das Dores
Dona Maria prepara o café quando a casa ainda dorme. No quintal, as primeiras luzes do dia despertam lembranças e épocas remotas. O cachorro corre para todos os lados da casa. Nas ruas, os vendedores de sonhos e promessas desenham um futuro cheio de surpresas e passam, vagarosamente, exibindo roupas velhas, guardiãs de muitas conversas e alvoradas de domingo. Dona Maria arruma a mesa como se fosse a última refeição. As dores fortes nas pernas são o prenúncio de manhãs inválidas , com unguentos e bastante água quente. O tempo é retratado na parede da sala exibindo fotos dos antigos moradores do casarão. Dona Maria, com o seu experiente olhar, carrega sua angústia pelos corredores enquanto os seus atuais moradores acordam, embalados por bocejos e sonhos imemoriais.
Gurgel de Oliveira
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