Dona Eugênia é uma mulher de mais ou menos setenta anos de idade, sorriso gentilmente forçado e muitas estórias para contar. Cheguei na sua casa ao cair da tarde e logo percebi uma atmosfera de ausência e dor em cada cantinho por onde passávamos. Dona Engênia perdeu o filho querido em circunstâncias trágicas, durante uma briga de rua, em algum lugar da cidade de Salvador, no ano de mil novecentos e noventa e dois. A foto do rapaz está espalhada por toda a casa e todos os seus pertences arrumados em um quarto... roupas, sapatos, livros, capacetes, cartões com palavras amorosas de amigos que não acreditam na sua partida, presentes de namoradas e fotografias de momentos marcantes da sua vida. Dona Engênia arruma o quarto todos os dias, coloca flores nos vasos próximo das fotos do rapaz e reza para que ele não fique distante nunca. Durante a nossa conversa, já por volta das oito horas da noite, Dona Eugênia me oferece um café e chora dizendo sentir a presença do filho adorado. Confesso que fiquei emocionado diante dessa senhora e supliquei aos deuses resignação para as mães que arrumam os quartos dos filhos que dormem para sempre , mas que elas ainda não perceberam.
Gurgel de Oliveira