Chegamos à Fazenda Senhor do Bonfim por volta das oito horas da noite e fomos recebidos pela dona da casa, uma senhora simpática e carismática. A fazenda fica nos arredores de Nazaré das Farinhas, cidade de muitas estórias e da famosa farinha de copioba, uma das principais fontes econômicas da região. A casa impressiona pela fachada, móveis coloniais, lustres e arandelas de porcelana francesa da segunda metade do décimo oitavo século. O pé direito de todos os cômodos é muito alto, portas e janelas largas e uma vista intrigante para os verdes vales que servem de pasto para o gado e os cavalos. Tomamos banho e seguimos para a sala de visitas onde uma mesa repleta de coisas gostosas nos esperava. Matamos a fome e conversamos até altas horas como se não tivéssemos que fazer nada no dia seguinte. Já era madrugada quando nos dirigimos à varanda. O céu estava estrelado e quente. O canto dos pássaros noturnos rasgava as cortinas escuras que abraçavam a mata fechada. Gritos e pedidos de ajuda pareciam vir da senzala que fica na parte inferior da CASA- GRANDE. Mulheres negras corriam agarradas aos seus filhos rumo ao canavial. Palavras de ordem eram cuspidas das bocas dos FEITORES e o engenho iniciava mais uma jornada. A moenda e a roda d'água, sinônimos de sangue e progresso, testemunharam o nascimento do sol com repulsa e ressentimentos.
Gurgel de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário