quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O olho, a alma, a pena e a palavra de Gurgel de Oliveira: escrita na telha de vidro

O que falta, hoje, nas experiências de escrita independente, sobra na prática de Gurgel de Oliveira: justeza entre crítica e poesia; subjetividades e lucidez, conhecimento e fantasia, olhar para fora e, inversamente, "de dentro ao mundo" - considerando a virtualidade do espaço e da ferramenta escolhida -, equilíbrio de informação e abalos ao que se verifica nas pontes bem fincadas do cotidiano. Dessa forma, os temas de seu blog (Arte, Histórias e Canções para Virgínia Wolf) vão encontrar os que acolhem a literatura, os da sala de cinema e os que desfilam na Bahia das centenárias putas; os que lêem notícias do mundo, os que digerem tudo e os que nada vêem em sua obliquidade de olhar. Gurgel é quase um nosso cronista - resguardando-se todos os aspectos da palavra e do gênero - que experimenta de forma livre a crônica, podendo-se ver ali ecos de Gregório de Mattos e de outros tão nossos vizinhos - como João Ubaldo - até o cronista de jornal, atento ao movimento do tempo e do espaço no qual se insere, vendo como notícia o mundo que corre veloz para além da tela. Há, junto ao cronista, um poeta, um ficcionista. Possuidor de agudeza no olhar e delicadeza da palavra, ou de ferina palavra e olhar delicado. É um blog vivo e vasto, com cuidados literários, rastros de boas referências, e liberdade fora dos moldes canônicos; alí, o exercício da palavra parece ser também da paixão. E isso faz, certamente, a experiência dessa escrita algo particular. Da palavra à imagem, das letras ao cinema, da vida à notícia...Não é um entre milhares de blogs. É o Blog de Gurgel. Assim de simples: blog com assinatura. E estilo.
Milena Britto - Professora do Instituto de Letras da Ufba.

Um comentário: