A cidade acorda agitada. A mulher das ruas carrega pedaços de imagens barrocas nas mãos sujas que já embalaram crianças. Por onde andarão as crianças que brincavam de desenhar cavalos nos vestidos longos de seda que dormiam aprisionados em vitrines frias e sem cores? Pessoas correm e a cidade acorda ainda mais...A sarjeta se esconde e carrega para dentro dos esgotos a sede de fantasia e o sêmen da noite anterior...do dia anterior que virou noite e transformou esquinas e praças em parques de perversão. Um velhinho sábio e experiente passa para um outro plano. A família se reúne para comemorar a passagem e chorar as cores das colagens que já fazem parte da parede do apartamento. Livros e cantigas se misturam com as brincadeiras de quintal. A infância do viajante é resgatada como um circo órfão povoado pelos malabaristas sertanejos e bailarinas embriagadas com tantas fantasias. Todos comem muito e a cidade continua agitada. A fotógrafa arruma na mesa da sala de jantar registros de imagens e viagens que nunca vão nos permitir esquecer que a vida é um conjunto de olhares famintos, espalhados pelos lugares que dormem, acordam e suspiram todos os dias.
Gurgel de Oliveira
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