sexta-feira, 27 de março de 2009

MARIA DO AMPARO

Os sapatos batem no tablado com muita força e determinação. Os violões são dedilhados por homens barbados, personagens secundários de lendas sevilhanas. Os babados vermelhos e pretos do vestido de seda rodopiam e impressionam os olhos dos forasteiros que circulam pela plateia. Maria do Amparo atira o seu olhar e se deixa viajar pela música que fala de bodas carregadas de incestos e contentamentos não vividos. Baila, Maria! Gritam os mais atirados. E Maria baila! A visão que temos do seu corpo é de uma tensão que incomoda e transforma o sono em convulsão. O som das castanholas que brigam e se contorcem nos seus dedos é o mesmo som inebriante que seduz os marinheiros gregos, na zona portuária de Barcelona. Maria do Amparo ilustra os sonhos e as vontades sórdidas de prostitutas e cafetões, que buscam ganhar suas vidas nas ilusões noturnas de pacatas vilas medievais, e que muitas vezes nos confundem com criaturas da noite, boêmios perdidos nos horizontes sujos de Madri. Baila, Maria! Baila e atira para bem longe a sensação de desassossego que nos causa o desamparo.
Gurgel de Oliveira

2 comentários:

  1. Gurgel, ler é uma delícia, mas escrever, escrever é um bálsamo ! Maravilhosos seus textos. A tensão no corpo de Maria ... uma tensão perceptível e também imperceptível. Amei sua subjetividade.

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  2. Gurja,me senti a Maria do Amparo em tantas noites que fico embriagado de amor pelos becos de Salvador...Baila Hieros do Amparo. E eu bailo feito louco...

    Beijos
    saudade

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