quinta-feira, 5 de agosto de 2010

OS SUPORTES DE FRIDA


 A jovem Magdalena Carmen teve o ventre dilacerado pelos ferros do bonde e foi condenada ao sofrimento. Em terras maias e astecas , onde os sacrifícios rotineiros incluíam curativos e medicamentos para suportar o dia, o corpo da pintora era sufocado pelos suportes de madeira e gesso e sua alma acalmada por unguentos e carícias de anjos ainda não pintados. Os anos passsaram e as dores não. As roupas com cores e adereços ajudavam a fabricar sorrisos no rosto atropelado pelo desejo de calma e calmantes. As telas foram pintadas e presas nos quadrados de madeira e verniz. A cama, fabricada no final do século dezenove, foi adornada com fotos de amigos e urina das madrugadas urgentes. O descontrole do corpo controlava mãos e pulsos e ajudava o cérebro a desenhar realidades perfuradas com parafusos e alfinetes. O México fervia. Intrigas políticas faziam pulsar os dias de sol, comidas e condimentos .Magdalena sentia dores e pintava com a cartela de cores que habita a nossa alma. Os esboços  da agonia ganharam o mundo. André Breton os qualificava como surrealistas e Frida dizia que não pintava sonhos, pintava a dor física que machucava o espírito e tornava a vida uma cama fria. O mundo pulsava. Paris era pertinho e Nova Yorque também. Diego a amou profundamente. Aos quarenta e sete anos a pintora partiu levando pincéis e coletes. Sem dores, ela nos acena, nos atira um beijo carmim e diz que a vida é o seu autorretrato.


Gurgel de Oliveira

 Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderon, mais conhecida como Frida Kah. Foto Museu de Coyoacá - México.
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