segunda-feira, 9 de agosto de 2010

UM DIA PELO MUNDO

Um homem declama  poemas de Artur Rimbaud no Passeio Público da Cidade Mãe. Simultaneamente, grupos ligados ao narcotráfico agem com grande desenvoltura nas principais cidades do país. A Colômbia oferece lições de urbanismo e segurança à autoridades e governantes brasileiros. As torres de espelho de Kuala Lampur, no sudeste asiático, tentam tocar o céu e sentir o cheiro das nuvens. Mulheres rasgam burkas e o hijab no Afeganistão e sete crianças paquistanesas morrem incineradas no norte da Índia. É a vida mexendo as mãos e expulsando os traumas que causam náuseas ao amanhecer. Estudantes carregam Bombas nas mãos em algum lugar de Belfast . Obras de Pablo Picassso são roubadas de um museu em Nova Yorque. É o mundo mostrando ao tempo que as mazelas existem e têm olhos que vigiam animais e caçadores nas savanas africanas. No muro das lamentações, próximo dos martírios da Via Dolorosa, judeus ressecam suas dores e deixam recados escritos nas fronteiras do sagrado. É o tempo mostrando ao homem que o passado está presente e pode voltar num piscar de olhos. Aqui, onde estamos agora,  acordando para mais um dia de trabalho e surpresas, pessoas passam em ônibus e carros pelas avenidas,  carregando nos braços embrulhos e crianças desencantadas com a palidez dos brinquedos e o cinismo dos sonhos enclausurados.
Gurgel de Oliveira

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