quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A ANTENA

As casas ficam no meio do nada. A presença das algas é o único perfume possível e os cabelos de Clotilde medem trinta e seis metros. Ocupam todo o espaço da sala. Os quartos não possuem  penteadeiras e as  angústias de cada morador estão presas às paredes, para serem apreciadas e nunca esquecidas. A antena brilha e corta o azul do céu e dos olhos de seu Antônio , relojoeiro e marido de Clotilde. Somente os moradores do lugar podem ver a estrutura de aço que insiste em brilhar no espaço. Bocas e estômagos adormecem e dentes são encontrados mortos, num clima de extremo desconforto. Uma criança chora! É o filho de Clotilde que nunca nasceu e mora no seu ventre já faz muito tempo. Segundo relatos de seu Antônio,   Quando Clotilde parir, os seus cabelos vão estar do tamanho da antena, que continua brilhando na cegueira sagrada do tempo.
GURGEL DE OLIVEIRA

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