quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O ÚLTIMO BEIJO DA DEUSA

Vale das Rainhas, Tebas. O Egito revela ao mundo o descanso de Nefertari, a amada de  Mut. O senet já havia previsto que a vida seria uma passagem pelos portais do tempo. Descansar os olhos sobre o calcáreo, rochas sedimentares ou a travessia  para o sagrado, é como elevar o espírito e sentir a  tinta  esboçando os dedos dos escribas pelos caminhos do corpo. Rammsés II vigia o rosto  da amada e o Vale do Nilo chora. A partida vai ser breve. Escravos da Núbia preparam a liteira para a grande viagem. Joias, vasos e frutas, companheiros dos mortos, já estão próximos ao sarcófago. O ano é 1255 a. C. A arte toma novos rumos. A lei da frontalidade comanda as mudanças estéticas e a estatuária dá formas ao alabastro. É o progresso chegando ao mundo antigo. Nefertari é pele e bandagens. A mastaba se abre e engole camelos e deuses.
Gurgel de Oliveira

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