Saiu sem arrumar a cama. Livros e jornais sobre o tapete da sala. Paredes sujas e marcas de dedos na janela. No corredor, pele, restos de unhas e um espelho quebrado. Nenhum bilhete foi deixado. Muitos dias se passaram. As mães se abraçam. Corações choram na calçada e as carruagens passam. Fotos são espalhadas pelas ruas. A casa sente calafrios e saudade. É a hora de esquecer. Portas serão lacradas. O cheiro de suor sufoca lembranças e perfumes. Arrumar os armários causa terror e sofrimento. Todos querem fechar os corpos e dormir. Os olhos da rua não são mais os mesmos. Lágrimas escorrem no asfalto. O altar se enche de luzes. Mãos postas recorrem ao desconhecido. Respostas são plantadas no vento.
Gurgel de Oliveira
Carlinhos. Desaparecido em 1973.
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