Dona Celeste tem hábitos não convencionais. O que chamamos de normalidade, para ela não passam de manias cotidianas cultivadas pelas pessoas que não tem o que fazer.Na casa não há luz nem água. Comida não entra e os vizinhos não a cumprimentam. Acham que ela não tem a cabeça no lugar e precisa de remédios e tratamentos. Dona Celeste faz fogueiras todos os dias, no final da tarde. As crianças não se aproximam e toda a vila fecha portas e janelas. As estrelas são contadas e anotadas num caderno e desenhos são rabiscados...Como se Dona Celeste visse, além das estrelas, criaturas de outros mundos com anatomias não habituadas aos nossos olhos. Ela passa dias e noites no matagal que fica próximo da vila e, quando retorna, diz que estava contando as árvores e algumas cerejeiras foram arrancadas. Diz, também, que passeou pelas núvens dentro de rodas de metal e que foi muito bem tratada pelos anões de prata. No último São João, após acender a fogueira como de costume, Dona Celeste entrou na mata e nunca mais foi vista. Foi embora numa bola de fogo, levando numa sacola galhos, folhas e cerejas.
Gurgel de Oliveira
Gurgel de Oliveira
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