terça-feira, 10 de setembro de 2013

A FESTA

Não tenhamos medo do escuro. As velas que estão acesas não traduzem a realidade da sala. A mesinha é de jacarandá e o tapete foi presente de família. O barulho das crianças não incomoda. Elas estão brincando no andar de cima com bolas e cartas de baralho. Alguém vai chegar trazendo frutas e pães. A noite é de festa e máscaras foram confeccionadas para a ocasião. Vovó está no quarto ao lado. Não levanta da cama já faz muitos anos. Vovô está na parede do corredor. Preso numa moldura oval e protegido por um vidro  que não brilha. As velas estão quase acabando. A escuridão vai chegar junto com os convidados. Ruídos brotam  do porão. A casa ficou só por muito tempo. São ratos e baratas em desconforto. Agora já não tem mais luz. As crianças estão quietas e esperam o começo da festa. Um cheiro de comida sufoca  a cozinha. O piso da sala anuncia  a chegada de pessoas. Rostos e mãos serão cremados no altar . O vento sacode as cortinas. As bocas mastigam e nem um olhar é percebido. Está muito úmido aqui. A lua é observada  com suavidade e ânsia. Um violino toca muito próximo. Já é hora de dormir.
Gurgel de Oliveira

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