quinta-feira, 12 de setembro de 2013

SOBRE POETAS E SEREIAS

Somos rios e mares, escreve a poeta numa folha de papel em branco que está à mesa. Navios e marinheiros estão espalhados na banheira e um cheiro de sândalo acalma o ambiente. Camomila e cidreira também acompanham  o ritual que inclui banhos e mergulhos na companhia de sereias e botos. Universos não restritos fazem parte das anotações. Montanhas e cachoeiras  cantam e acalantam santos de gesso e a trilha que nos leva às grutas estão fechadas por estacas e arames. Sonhar é preciso e dormir é dispensável. Camas de hospital substituem canoas e a bordo estão príncipes e focas. O gelo resfria o poema e conserva a carne que vai ser servida no almoço. Pássaros e porcos se vestem para o baile. Os músicos chegam num ônibus sem janelas e transparências. Nada parece não fazer sentido. O canto das ondinas embala os marinheiros que beberam além da conta. Os mares engolem papéis e anotações. A poeta se despede e atira tecidos de seda nos rios. A Oxum se veste de ouro e joga no rosto o suco das pérolas.
Gurgel de Oliveira

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