O poder do olhar. Mãos que manipulam corpos e estradas. Caminhos desenhados na sola dos pés. Senhoras que gritam aos quatro ventos e destroem a colheita. Em 1692 o medo se instalou em Salém. Uma menina dorme nos porões da loucura. Parceiras do demônio apontadas nas ruas. Pensar não é permitido. Fogueiras são repensadas e a fome é constante. Coisas e pessoas morrem todos os dias e os animais desaparecem. As nuvens cobrem os vilarejos próximos. Carne e peixe não são ingeridos. Rezar causa desconfiança. Os puritanos estão a postos. Escrever é evocar o inferno. Centenas de mulheres queimadas na praça. A noite apaga o rastro da besta. Como uma estória que não foi contada.
Gurgel de Oliveira