segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A CHEGADA DA LIBÉLULA

Faces sem nome se misturam aos porcos. Pérolas e pescoços perdem o brilho na multidão. Moedas e fotos da América passam pelas mãos do soldado pretoriano e Roma é redesenhada nos papéis que sustentam o tablado. Corpos sem órgãos resguardam hospitais. Estórias de confrontos chegam aos ouvidos e decoram o altar para a Missa do  Santíssimo. E a procissão carrega nas costas o silêncio engasgado  pelas beatas que agora são riscadas  no concreto. Em quais estradas estão enterrados os olhos da estátua que veio das montanhas? O rio não está  preparado para barcos que não se sustentam. Os prédios ao redor do porto se escondem na penumbra e vomitam móveis feitos de árvores e adagas. São sonhos do Oriente que brotam das portas em Budapeste. A Hungria está presa na garganta de Praga. Tem gárgulas em todas as fachadas nos olhando com sede e vontade de nos fazer voar. O canto da liberdade não é doce de criança. Palmas para o sanfoneiro que embala cegos e aprendizes de águias. Ser livre  é somente um rosto com a expressão da pedra que dança e balança  a água.

Foto de 1900. Domínio público.

Gurgel de Oliveira


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