Maria está sem palavras. A contrição é um caminho sem retorno. O espaço é restrito e não há portas nem janelas. Os barulhos externos são orações que se perdem em fragmentos. Cabelos estão presos às caixas de madeira. O que tem dentro dos baldes desperta os olhos e risca os lábios com alfinetes. Não falar é preciso. Costurar as bocas é uma obrigação diária. Se é dia ou noite, não sabemos. Esgotos são santuários que remendam abandonos. Quantas dores sentem as malas que nunca vão ser abertas! Rezemos para que a nossa pele não fuja. O aquecimento que precisamos se foi com a última primavera. Só nos resta o silêncio. Pregos e agulhas se desprendem do teto. Maria não fala nada. Apenas observa.
Gurgel de Oliveira
Foto de domínio público. 1900.
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