quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CONFISSÕES DE FELIPE

Quando eu era garoto, os sonhos não eram tão distantes e os dias pareciam mais longos. Esperávamos o anoitecer e nos recolhíamos mais cedo para que o ato de sonhar nos pegasse de surpresa. Rezávamos um Pai Nosso e nos cobríamos para que a escuridão nos vestisse de sono. Pássaros nunca vistos voavam bem próximos de nós. Minha mãe morria e o mundo acabava. A festa de aniversário era cancelada e o bolo sumia diante dos meus olhos. A escola não existia. A bola de muitas cores passeava pela casa. Elefantes e enfermeiras curavam dores e ferimentos. Rios e cachoeiras brotavam das paredes e os bichos da água se espalhavam pelo quarto. Era hora de acordar. Encarar a realidade e o café com pão e manteiga. Olhar em volta da casa e constatar que as árvores estavam no mesmo lugar. Passear pelo dia e torcer para que a noite e os cobertores viessem ao nosso encontro,  e  nos levassem outra vez ao desconhecido.
Gurgel de Oliveira

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