quarta-feira, 23 de outubro de 2013

VERSOS NO ESCURO

O musgo vai cobrir os nossos sonhos . Não teremos mais nomes e o passado será escrito nos muros. As nossas roupas, simples peças de varais. Lembranças   e fitas guardadas no armário. A cozinha vai parar. Carnes e verduras serão enviadas aos vizinhos. A ordem é para que portas e janelas permaneçam fechadas. Vasos e flores  derreteram  nos   esgotos . Corpos esculpidos e facas amoladas ao extremo. A lâmina corta o vento e divide o calor em partes iguais. Tem alguém respirando próximo aos potes de vinho. O atrevimento da ignorância tem o gosto de sangue expulso das veias . Não é justo  que retiremos  as unhas das crianças. Cartas com lacres  balançam nas correntes. Os escritores sentem saudades dos parágrafos. É hora de apagar as luzes. Tirem os olhos dos cabides e tentem observar  bem longe. Não é mais possível. As nossas retinas viraram adubo..

Foto de domínio público. 1900.

Gurgel de Oliveira

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